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A Bússola Quebrada de Zema: Solidariedade Seletiva e o Silêncio Ensordecedor sobre Minas
A recente declaração do governador Romeu Zema no X, condenando os ataques do Irã a Israel como "covardes", revela uma preocupante desconexão com a realidade e as prioridades de Minas Gerais. Uma análise do Dr. Ivan Nunes.
Por Administrador
Publicado em 16/06/2025 13:28
Politica

Ainda ecoa o clamor nas redes sociais a recente manifestação do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, que, em sua conta no X (antigo Twitter), expressou “solidariedade ao povo de Israel” e classificou os ataques do Irã como “covardes”. Uma postura, no mínimo, curiosa para um chefe de executivo estadual, que, ao se posicionar com tamanha veemência sobre um conflito internacional complexo e distante, parece esquecer as batalhas diárias e as feridas abertas em sua própria casa.

É imperioso questionar: qual a pertinência de um governador de estado, cujas responsabilidades primárias residem na gestão e no bem-estar de seus concidadãos, se arvorar em comentarista de política externa com tamanha parcialidade? Zema, que tanto se empenha em vender a imagem de um gestor focado em resultados, parece ter uma bússola política quebrada quando o assunto não diz respeito a interesses específicos.

A mesma "covardia" que o governador atribui a um ataque geopolítico, distante de nossas fronteiras, poderia, talvez, ser encontrada no silêncio ensurdecedor que paira sobre questões intrínsecas à administração mineira. Onde está a solidariedade de Zema, com a mesma veemência, quando se trata das comunidades atingidas pela tragédia da lama de Mariana e Brumadinho, cujas feridas ainda não cicatrizaram por completo? Onde está a condenação incisiva à lentidão na reparação, à omissão de tantos que seguem esperando justiça e amparo?

É louvável – ou talvez, estratégico – demonstrar empatia com nações estrangeiras. Contudo, a solidariedade mais premente, a que realmente importa, deveria estar direcionada aos milhões de mineiros que enfrentam desafios diários: a precariedade da saúde pública, a educação que clama por investimentos reais, a segurança que ainda é um luxo em muitas regiões do estado e, sobretudo, a desigualdade social que persiste em corroer o tecido social.

Classificar um ataque como "covarde" é um juízo de valor que se esperaria de um analista político ou um cidadão engajado, mas não de um governador que deveria, antes de tudo, zelar pela neutralidade e pela diplomacia em assuntos que não dizem respeito diretamente à sua alçada. Zema, ao tomar partido de forma tão explícita, arrisca a imagem de Minas Gerais e, de certa forma, pode comprometer futuras relações diplomáticas, ainda que em um nível simbólico.

Afinal, a que interesses serve essa declaração unilateral? Seria um aceno a um determinado grupo político ou ideológico? Seria uma tentativa de desviar o foco de problemas internos que, dia após dia, se acumulam em sua mesa?

Enquanto o governador Zema se preocupa em emitir opiniões sobre conflitos no Oriente Médio, os hospitais mineiros seguem superlotados, as estradas esburacadas e a população aguarda respostas para dilemas que impactam diretamente suas vidas. A solidariedade, Sr. Governador, começa em casa. E a "covardia" real, para muitos mineiros, reside na inércia, na falta de prioridade e na omissão de quem deveria, acima de tudo, representá-los com dignidade e responsabilidade, voltando os olhos para as necessidades de Minas, e não para o mapa-múndi.

É hora de Zema recalibrar sua bússola e direcionar sua solidariedade e suas condenações para onde elas realmente importam: para o povo mineiro, que o elegeu para governar, e não para ser um polemista internacional.

 

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